Flávio Leal Menezes iniciou a carreira como fiscal de pista e se envolveu em atritos com famosos pilotos da F1, acidentes e capotamentos até assumir o comando da FVee.
Quem diria, aquele fiscal de pista que um dia acertou um chute, mesmo de forma não intencional, em Alain Prost hoje comanda a mais tradicional categoria na formação de pilotos do automobilismo nacional.
O incidente envolvendo o francês tetracampeão mundial no GP Brasil, em Jacarepaguá, é apenas uma das muitas circunstâncias que acabaram levando Flávio Leal Menezes à direção da Fórmula Vee, criada no Brasil há 53 anos.
Ele tinha apenas dois anos quando a FVee começou a ser disputada no país. Em 1967, Emerson e Wilson Fittipaldi já corriam nos carros econômicos construídos com peças VW e se preparavam para iniciar a mais vitoriosa geração de pilotos brasileiros.
Em Fortaleza, onde nasceu, Flávio Menezes acompanhava as corridas de automóvel pela TV ao lado do pai. Nas férias, em viagens pelo Nordeste, conheceu kartódromos, mas nunca teve a oportunidade de brincar ou mesmo pilotar um daqueles carrinhos. Não cabia no orçamento familiar.
MENGELE, O BANDEIRINHA
Esta paixão pelo esporte cresceu e se acumulou durante anos. Quando se mudou para São Paulo, no início dos anos 1980, Flávio Menezes sabia exatamente qual o ponto turístico que queria conhecer: o Autódromo de Interlagos.
Tudo começou numa competição estadual na qual ele subiu no alambrado para chamar a atenção de um bandeirinha, ou como os bandeirinhas preferem ser chamados, fiscais de pista (afinal, nem no futebol os bandeirinhas gostam de serem chamados de bandeirinhas). Pediu uma dica, uma orientação, do que era preciso para fazer parte daquele mundo. Abriu-se a porta, através do Automóvel Clube da Lapa, do Rallye Motor Clube e da Speed Fever, a empresa responsável pelas equipes de apoio nas pistas.
Sem dinheiro para competir, esta era a melhor oportunidade para fazer parte do automobilismo. Mais do que o início da realização de um sonho, nascia ali uma aventura, marcada por acidentes, um terrível apelido e intrigas com pilotos da Fórmula 1.
Por muitos anos Flávio Menezes foi bandeirinha, quer dizer, fiscal de pista em diversos autódromos e também em pistas de motocross. Ele ainda era responsável por convidar motoristas que barbarizavam em rachas pelas ruas e avenidas de São Paulo e levá-los para competir de forma oficial e com segurança em Interlagos. Por isso, estava sempre com a sua credencial para ser apresentada quando a polícia baixava e não ser confundido com mais um delinquente do trânsito.
Em comum em todas as suas atividades estava a sua incrível capacidade de atrair acidentes. Foram vários capotamentos, incluindo um onde estava como passageiro fazendo a vistoria em Interlagos, e ao menos três atropelamentos, na qual foi vítima.
Por onde passava, deixava a marca da destruição, diziam os maldosos colegas bandeirinhas, responsáveis pelo apelido que pegou até hoje: Mengele. Foi dado justamente na época em que foram encontrados e identificados no Brasil os restos mortais do médico nazista.
AUTORIDADE MÁXIMA NA F1
Sem ter responsabilidade pelas barbeiragens cometidas pelos pilotos ao seu redor, Flávio Menezes foi promovido à “KGB”, como eram chamados os supervisores paulistas que trabalhavam nas provas do GP Brasil de F1, no Rio de Janeiro. Corridas nas quais o francês Alain Prost e o inglês Nigel Mansell jamais se esquecerão, não apenas por suas vitórias.
A função de Flávio Menezes era levar os pilotos do pódio para a sala de imprensa. Diante do tumulto em determinada ocasião, uma das portas de acesso foi fechada e causou tumulto. Foi quando Flávio Menezes atingiu, casualmente, o piloto francês. De cima de sua imponente altura de 1,65 metro, Prost disparou, calmamente: “Por favor, pode me levar sem me chutar?”
Mansell também conheceu a fama daquele fiscal cearense arretado. Ainda no pódio, o inglês cortou a mão com um parafuso solto na base do troféu e se assustou com o sangramento. Ele pediu para ir direto ao ambulatório, mas Flávio Menezes estava lá para cumprir ordens. A determinação era para que os pilotos seguissem direto para a sala de imprensa. E assim foi feito. O ferimento teve que esperar.
Em sua missão de proteger os pilotos da F1, ele só não conseguiu barrar o lendário Beijoqueiro. O famoso penetra chegou a invadir o grid a poucos segundos do início de um GP no Rio para beijar o capacete de Prost. Pulou a mureta a poucos metros de distância onde estava Flávio Menezes, que preferiu não se arriscar a sofrer um novo atropelamento, com a largada iminente. Melhor um beijo inocente do que mais um acidente no currículo.
A SORTE ESTÁ LANÇADA
Nesta época, Flávio Menezes já havia constituído a F/Promo. A empresa foi pioneira no país na elaboração e certificação de sorteios promocionais ligados à Loteria Federal. E incluiu em sua relação de atividades a F/Promo Racing, hoje responsável pela Fórmula Vee Brasil.
Até chegar ao controle da categoria, passaram-se outras aventuras. Após conhecer de perto o automobilismo através das posições dos fiscais na pista, Flávio Menezes teve a oportunidade de fazer um curso na Escola de Pilotagem Interlagos. Na ocasião, chegou a ser entrevistado por Reginaldo Leme para uma reportagem sobre fiscais de pista que trabalhavam no GP Brasil de F1.
Em 2012, Flávio Menezes pôde, enfim, ter seu dia de piloto. Ele foi apresentado à categoria que estava sendo retomada no país, a FVee, através dos novos carros construídos pelo também empresário Roberto Zullino.
Pilotos eram donos de seus carros e também ofereciam para alugar. Dois anos depois da primeira experiência no carro de aluguel, Flávio Menezes já tinha o seu próprio FVee, justamente na época em que a categoria sofria um novo revés, com o racha que causou a criação da Fórmula 1600. Com grids superiores a 30 carros, a Fórmula Vee viu o número de competidores cair drasticamente.
Foi quando a sina retornou. Em 2015, durante uma prova no ECPA (Esporte Clube Piracicabano de Automobilismo), Flávio Menezes sofreu um espetacular acidente. Ele perdeu o controle do carro, bateu na zebra e decolou para três capotagens. O chassi Naja construído por Roberto Zullino provou sua resistência e confiabilidade. Não houve nenhum ferimento grave.
Os místicos podem dizer que foi um aviso do destino. No ano seguinte, com os poucos pilotos ainda dispostos a competir na FVee, Flávio Menezes decidiu deixar o cockpit e assumir o controle para recuperar, mais uma vez, a categoria. Com o aval de Zullino, adquiriu novos carros e passou a organizar provas e recrutar pilotos.
Curioso que Flávio Menezes já havia tido sua primeira experiência na coordenação de provas ainda na adolescência, quando morou em Recife e organizava corridas de bicicleta. Cobrava dos amigos pela participação a fim de arrecadar dinheiro para a premiação.
A VOLTA DO CRIADOR DE NOVOS PROJETOS
O impulso no projeto foi dado com a volta de Wilson Fittipaldi à categoria. Wilsinho, um dos criadores da Fórmula Vee no Brasil, foi uma indicação de Paulo Solaris, que estava ligado à Old Stock e promovia a exposição Velocult, com carros antigos no Conjunto Nacional, na avenida Paulista. Solaris dizia que a FVee necessitava de um “embaixador”.
Ao lado de Flávio Menezes, Wilson Fittipaldi acabou se tornando muito mais que um embaixador. Ele voltou a se dedicar ao automobilismo, após alguns anos afastado, como consultor e instrutor de novos pilotos. Wilsinho levou à FVee todo o seu conhecimento e experiência de quem foi piloto e chefe de equipe na Fórmula 1.
A começar pelo experiente mecânico Darcy de Medeiros, contratado para avaliar e padronizar os carros. Darcy, que morreu em 2017, também indicou o galpão-oficina onde está instalada a sede da Fórmula Vee, em São Paulo, na altura do km 15 da rodovia Raposo Tavares. Em seguida, foi a vez de chamar o projetista Ricardo Divila, amigo e parceiro de Wilsinho desde a criação da FVee nos anos 1960, incluindo a aventura com a equipe Copersucar-Fittipaldi na F1.
A partir de 2017, a FVee ganhou fôlego. A categoria, que chegou a ter apenas cinco carros no grid, já fazia corridas com 16. Além de Interlagos, com a disputada do Campeonato Paulista, foi mantida a Copa ECPA, em Piracicaba, e realizadas competições como a Copa Minas, em Curvelo, e a Copa Mato Grosso do Sul, em Campo Grande.
Nos últimos anos, a FVee tem se empenhado na modernização de seus carros, baseada nos projetos desenvolvidos por Wilsinho e Divila. Eles criaram o novo chassi Naja FD01-D, que incorpora suspensão traseira independente, câmbio de cinco marchas e outras melhorias como novo comando de injeção eletrônica.
Ricardo Divila morreu em abril deste ano e deixou o projeto de um Super Vee nas mãos de Wilsinho e Flávio Menezes. A ideia é construir um carro mais rápido, com pneus slick, asas dianteiras e traseiras, lembrando os modelos que fizeram sucesso nos anos 1970, quando foi revelado Nelson Piquet.
Este é apenas um dos vários planos da F/Promo Racing que incluem trazer a Fórmula 4 ao Brasil e competir com um carro próprio em provas de Endurance. Tudo para realizar os sonhos daquele garoto que acompanhava corridas pela televisão no Ceará ao lado do pai.
FONTES/TEXTO: FERNANDO SANTOS / ASSESSORIA DE IMPRENSA FVEE BRAZIL
FOTO/IMAGEM: MARCOS TADEU BATISTA / VELOCIDADE EM FOCO
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